
PRODUÇÃO A QUALQUER CUSTO
BETA-AGONISTA

O diretor técnico do Instituto Catarinense de Defesa Agropecuária (ICASA) e médico veterinário, Gerson Catalan, afirma que a Ractopamina não representa qualquer perigo ao consumidor. A substância foi descoberta em 1958 e teve seu uso comprovado como composto para alimentação animal em 1979. Seu uso é permitido em vários países para a alimentação animal, incluindo EUA e Canadá. No Brasil seu uso também encontra amparo legal e existem produtos no mercado, desde o final dos anos noventa e início do segundo milênio, para suínos e bovinos.
Catalan explica que a RAC é considerada um beta-agonista. Beta-agonistas (agonistas B-AR) são substâncias que ativam os receptores beta-adrenérgicos (B-AR), conhecidas como agentes repartidores, que têm sido utilizados e estudados em espécies zootécnicas por mais de duas décadas, principalmente por seus efeitos na produção de carcaças mais magras e musculosas. Ele desvia os nutrientes de formação da gordura para a produção de tecido muscular. Deixando assim, a carne mais magra.
Esses compostos sintéticos são farmacologicamente similares às catecolaminas, como a dopamina, norepinefrina (noradrenalina) e epinefrina (adrenalina), que são compostos utilizados na medicina humana há mais de 30 anos como broncodilatadores. Nos animais de produção, os agonistas B-AR já estudados são: cimaterol, clenbuterol, L-644-969, ractopamina, salbutamol e zilpaterol, os quais são administrados pela adição em algum dos ingredientes da ração.

Ractopamina é um broncodilatador e se assemelha à adrenalina / Foto: Henrique Silvani
Fazendo uma busca rápida na internet sobre a ractopamina é possível encontrar várias opiniões divergentes. Existem laudos que comprovam que o ingrediente não apresenta riscos para a saúde humana porém existem também pesquisas que comprovem o malefício da substância.
Em uma pesquisa da revista “Nutri-Time” foi realizada uma revisão de artigos para discutir informações sobre a utilização da ractopamina na produção de suínos. A principal conclusão foi na alteração final da carne do animal. A pesquisa de Car Rossi (2010), trabalhou com 108 suínos e relatou que a utilização da ractopamina na alimentação de suínos aumentou as concentrações de proteína e diminui a quantidade de gordura na carne do animal.
O site eCycle explica que a Ractopamina é proibida em mais de 50 países, incluindo os mercados europeu, chinês e russo porque não há pesquisas suficientes que comprovem sua segurança, mas é permitida pelo Codex Alimentarius dentro de certos limites. Segundo o site, no Brasil, os maiores produtores de carne não utilizam a ractopamina na ração de animais porque os importadores não aceitariam, mas muitos ainda insistem em defender o aditivo.
Segundo o FDA (órgão norte-americano responsável pelo controle de alimentos), os efeitos nos animais podem incluir toxicidade e outros risco de exposição, como mudanças de comportamento e problemas cardiovasculares, reprodutivos e endócrinos. A substância também é associada aos altos níveis de estresse no animal, hiperatividade, membros fraturados e até a morte.
Após a medida tomada pela Rússia, o estado brasileiro de Tocantins proibiu a comercialização do suplemento. Segundo o site G1, com a nova legislação, os estabelecimentos flagrados vendendo Ractopamina podem ter o registro suspenso e as fazendas onde o uso for comprovado serão interditadas.
Para o agricultor e agrônomo Rui Wolfart a ractopamina tem em sua molécula o núcleo benzênico, também presente nos produtos clorados (DDT, BHC), que foram banidos nos anos 70, não só pelos riscos de provocar câncer, mas também pelas conseqüências da cumulatividade na cadeia alimentar e alta persistência no solo. “Todo agricultor que tenha aplicado 10 kg de DDT em 1970, tem ainda em sua terra 5 kg do produto, poluindo e provocando danos à saúde, mas não mais fazendo efeito sobre as pragas que atacam as suas atuais lavouras”, conclui.
Apesar da Ractopamina ser utilizada no Brasil, a Rússia alega que não há pesquisas exatas que mostrem se o aditivo apresenta riscos para a saúde humana. Sabe-se que, a longo prazo o uso da RAC pode causar tremor muscular, taquicardia, vasodilatação, distúrbios metabólicos, entre outros sintomas em seres humanos.
A consultora estratégica que cobre a indústria de alimentos nos EUA, Robyn O'Brien, em seu artigo "Meet Ractopamine: The Drug in Your Meat that Is Banned in 100 Countries", relata que existem 196 países no mundo, e estima-se que em 160 o uso da droga ractopamina foi banida ou restringida. Como não existem estudos científicos que indiquem o malefício da RAC, países como os Estados Unidos baseiam-se nesta ideia para continuar o uso da substância e alegam que Rússia e China apenas proíbem o uso para ganhar maior pedaço de mercado.
Catalan explica que a ractopamina atua principalmente na conversão alimentar, no ganho de peso diário e faz com que a carcaça do suíno tenha um menor percentual de gordura, ou seja, traz benefícios econômicos ao produtor e carne com menor percentual de gordura, o que é mais saudável para o consumidor. “Os países que fazem restrição ao seu uso (de ractopamina) seguem o que a União Europeia preconiza. Na prática, é a não comprovação de possíveis malefícios que os levam a não utilizar”, conclui.
Vídeo: Ourofino Saúde Animal
ALTERAÇÕES DA RAC EM ANIMAIS
Em uma pesquisa realizada por Raquel Formighieri no Programa de Pós-Graduação em Tecnologia de Alimentos pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) foram analisados um total de 310 fêmeas, machos castrados e imunocastrados de duas granjas diferentes e distintos cruzamentos genéticos. O animais foram aleatoriamente designados para receber o tratamento com RAC (7,5 mg / kg), durante 21 dias antes do abate, ou a dieta convencional, sem RAC.
Os animais foram abatidos em diferentes abatedouros comerciais e as carcaças foram resfriadas por 24 horas a 4°C. Amostras de sangue foram coletadas na sangria, para determinar a atividade enzimática da creatinafosfoquinase (CPK), lactato desidrogenase (LDH) e os níveis do hormônio cortisol.

Carne com uso de Ractopamina apresenta menor taxa de gordura / Foto: Henrique Silvani
Após as devidas análises conclui-se que a incidência de carne vermelha, flácida e exsudativa foi extremamente elevada, 80,0 % do total das amostras avaliadas apresentaram esse problema de exsudação - refere a saída de líquidos orgânicos através das paredes e membranas celulares, tanto de animais quanto de plantas, por lesão ou por inflamação - e 10,3% foram classificadas como carne pálida, flácida e exsudativa e somente 0,9 % apresentaram carne escura, firme e seca, mas a RAC não influenciou essas incidências.
De acordo com a pesquisa a adição de RAC em 7,5 mg/kg na dieta de suínos em terminação não apresentou impacto importante sobre os índices sanguíneos de estresse (CPK e LDH), lesões de casco e medidas da carcaça. No entanto, fêmeas alimentadas com RAC apresentaram maiores valores de cortisol. Alguns parâmetros de vocalização, como a intensidade do som e amplitude também foram maiores para os animais alimentados com RAC.